sábado, 29 de setembro de 2012



Eu creio.
Por mais que doa e ressoa, eu creio.
Cumpro a sina.
Resguardo a rima, a lágrima, a mágoa.
Transbordo ou viro barragem.
Nas entrelinhas te escrevo minha mensagem.
Minha crença tem raiz profunda.
Nas linhas minha tristeza grita, mas minha fé é muda. Contida. Centrada.
Vem da mais nobre linhagem.
Altiva. Segura.
É ela. E é apenas.
Tem ciência que não precisa se mostrar. Provar nada.
Apenas é.
E é tudo.
E quando menos se espera ela toma conta e cala o mundo.
Metamorfoseia-se em mim. Em atos. Em passos.
Tudo é ação. Reação. Vigor.
A vida vibra movida pela fé sentida.
Por mais que cegue e doa nos dias difíceis,
Na beira do precipício ela se faz presente.
Apenas ela. Que apenas é.
A fé.

Joanna Bravim

Mágico de Oz



Estou ausente agora, mas carrego algo em mim.
Mudei-me de mim quando fiz surgir o que procurava em você
Essa farsa me fez pensar que o que quer que tenha acontecido antes
Não era tão ruim quanto saber que tu existes e não é viável tê-la.
E essa impossibilidade trouxe-me tanta dor que me fez querer - te longe.
Meu coração, mágico de Oz, através de um truque trancafiou essa fantasia.
Usei do ilusionismo para proteger-me;
Seria inútil revelar.
Escondo a dor nessas palavras ocultas.
Abafo o grito.
Sufoco o quase amor. Não o deixo respirar.
Não sacio sua sede e espero que assim o leve a sucumbir
E a morte dele me liberte.

Joanna Bravim




Bobo Da Corte




A ressaca moral me destrói
Realidade limpa... Seca.
Bobo da corte. Distração. Motivo de sorrisos.
Válvula de escape das angústias, frustrações e desilusões;
Capacho das necessidades e aflições;
Vassalo abanando ego;
Pateta.
A vergonha de hoje me esconde do ontem... De mim.
Como me encarar novamente?
Como retornar aquele lugar sem essa sensação deprimente?
Pateta.
Só quero esquecer. Deletar.
Só quero sumir.
Não mais ver você.
Não pra fugir de ti, mas me proteger de mim.

Joanna Bravim



Descompasso




E você surgiu comigo ainda assim
E você ficou e eu sem saber o que fazer de mim
E você foi se afastando e sumindo no horizonte
E eu estava aqui, mas me fazia distante.

Eu só pensava em tudo o que tinha vivido
E isso me fazia não sair do lugar
E eu sentia tudo e não fazia sentido demonstrar
E doía tudo, tudo moído por dentro e aparentemente no lugar.

De todas as minhas fugas e disfarces
Essa máscara era a que mais pesava carregar
Dava tanto trabalho essa atuação que ao nascer do dia faltava-me forças pra levantar.

Mas eu tinha que me reerguer
O show tinha que continuar
Tinha que me reestabelecer
Tudo tinha que voltar pro seu lugar.

Cada semana era uma redescoberta
Da vida que eu tinha deixado pra trás
Resgatando sonhos e projetos
A duras penas reestabelecendo a minha paz

A dor cansou de doer
A sorte maldita que eu tive não mais me machucou
Comecei a perceber as coisas em volta
Vi você que não me abandonou

O coração fica sem jeito, encabulado, sem saber como bater no peito.
Disritmia, descompasso, aceleração;
Não sei se por encanto
Ou por preocupação.

Joanna Bravim

domingo, 23 de setembro de 2012

Eutanásia



Sigo rumo ao destino certo
A lágrima escorre do canto do olho... A certeza do fim.
Não existe cura descoberta para o tratamento dessa desilusão
Fadada à morte certa. 
Tudo o que acredito sentenciado a eutanásia.
Projetos paulatinamente em falência
Sinto o veneno da desilusão injetado em minhas veias se distribuindo pela minha corrente sanguínea;
A pulsação cardíaca acelera descontroladamente a cada memória do quanto fiz por você
A dor me contorce
A pressão arterial começa a baixar
Tudo está em declínio
Das cores que eu via só resta o cinza, e ainda assim, embaçado.
Sem forças para continuar de olhos abertos
Só cabe a mim render-me ao fim desse amor
E retomar a vida em outro plano astral.

Joanna Bravim

Comida Requentada




Você viveu um grande amor que terminou.
Está só.
Só as tuas lembranças que te fazem companhia.
O fim de semana se aproxima e você frustradamente procura algo que preencha as tuas horas.
Mas nada satisfaz. Nada é como fazer nada ao lado dela.
Tentar outra vez o mesmo amor?
Voltar tudo como era antes, prorrogar a vigência do contrato?
Mas como disfarçar o cheiro de comida requentada?
Tendo doído tanto a primeira separação, difícil batalhar por uma sobrevida do amor.
A consciência do risco de ganhar uma sobrevida para a dor não te deixa relaxar.
A sensação de marcha a ré torna-se uma constante.
O motivo que levou à separação continua por ali, escondido atrás do sofá
Ou disfarçadamente decorando a mobília da sala.
Percebe- se então que a paixão não segue sem cicatrizes.
Não é assim tão fácil de ser contornado.
Na cabeça, tudo vai dar certo:
O roteiro do romance foi reescrito e os defeitos foram retirados do script.
Mas na hora de encenar, cadê o diretor?
A sós no palco, constatamos que somos os mesmos de antigamente, em plena recaída.
E a sensação de rever um filme não te deixa.
E, cá entre nós, isso não mantém o brilho do olho.

Joanna Bravim

O Despertar




A parte mais dolorosa do fim é ter que recomeçar.
Ter que abandonar os planos que tanto te sustentaram e te motivaram a querer viver o amanhã;
Ter que apagar os anos posteriores que foram projetados com tanto entusiasmo;
A esperança tem que esperar.
Esperar a dor ser superada;
Esperar os traumas serem esquecidos;
A amargura ser abandonada;
Doído seguir sem saber pra onde.
Procurar criar um plano de ação que a ilusão não tinha imaginado que poderia acontecer:
Seguir sozinho.
Justo você que era tão feliz nesse ninho que achava ser seu.
Mas que dolorosamente hoje você vê que nunca te pertenceu.
Difícil sentir o abrir dos olhos depois de tanto tempo sonhando adormecidamente.

Joanna Bravim

Estigmata




Ela apareceu como quem nada quer
Foi ficando sem ninguém perceber
Tudo começava a dar errado e eu não entendia o porquê.
No trabalho era complicado;
Em casa tudo muito tumultuado;
Com os amigos era sempre vazio;
Na bebida não existia mais anestésico;
Do humor só restava o lado negro;
Motivação tinha virado uma lembrança longínqua;
Tudo estava do avesso.
Um fim ou um eterno recomeço?!
Não existia mais refúgio.
Não existia mais saída, cais, farol ou qualquer coisa que se mostrasse como um rumo pra vida.
E eu lutava contra tudo sem saber contra o que ou contra quem guerreava.
Só sabia do resultado: outra derrota.
Perdida mais uma batalha.
Foi quando eu vi o reflexo e percebi que sempre tinha sido eu contra eu mesma.
Sempre fui a adversária que tanto me derrotava. Que me autossabotava.
Essa foi a minha maior surpresa.
Eu, estigmata dos meus próprios sonhos.
Segurei o martelo e sem piedade cravei as estacas em minhas próprias mãos.

Joanna Bravim


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Livre, Leve... Só.






Deixo-te escorrer em minha face
Na espera que deságue também o resto de amor que ainda sinto
Ainda arrasto alguns pedaços teus presos a mim
Sigo me debatendo a cada hora que teus olhos me vêm à mente
A dor de te lembrar já superou a dor de seguir só
Hoje me quero livre
Hoje me quero leve
Hoje me quero só
Carregar-te comigo pesa
Olho pra trás e vejo o quanto mudou
Ontem tu eras a solução
Hoje é o motivo da dor.

Joanna Bravim




segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um mundo Pra mim




Não sei me encontrar
Não sei nem disfarçar
Não sei me encaixar
Sou assim

E onde quer que eu vá
Tudo parece estar
Fora do lugar
Vejo assim

E eu sei que alguém
Também se sente assim
E eu sei que existe
Um mundo pra mim
Um mundo pra mim

Tento me encaixar
Mas onde quer que eu vá
Tudo parece estar
Fora do lugar

Pessoas começam a olhar
Nem tentam disfarçar
Parecem me analisar
Mas por quê?

E eu sei que alguém
Também se sente assim
E eu sei que existe
Um mundo pra mim
Um mundo pra mim

São tantos estereótipos
São tantas regras, tantos padrões
Isso é um saco
Só quero conseguir respirar
Ter um mundo pra poder tentar
Pelo menos ser quem eu sou!

E eu sei que você
Também se sente assim
E eu sei que existe
Um mundo pra mim
Um mundo pra mim...


O Compreender da Caminhada



Deixa tudo como está
Vai ver é assim que tem que ser
Deixa tudo como está
Deixa o tempo ensinar a crescer

Está tudo em seu lugar
Só você se nega a ver
Por que não quer acreditar
Que o certo, às vezes, é justo o que te faz sofrer.

Deixa tudo como está
Segue em frente
Esquece esses “porquês”
Com o tempo a vida te mostra o encaixe certo
Do que hoje você não vê razão de ser

Aceita os teus problemas
Eles que adubam a paciência
É através deles que ela cresce
E te traz experiência

Conhece-te a ti mesmo
Isso que é sabedoria
Pára um pouco, reflete sobre a vida.
Nem que seja por minutos, na correria do dia a dia.

Com o passar dos dias você vai perceber
Que basta vontade pra fazer florescer o compreender da caminhada
Espero tudo isso também aprender a fazer
No decorrer dessa estrada.

Joanna Bravim 

Sem Você Sou Só Pedaços




É mais um dia tentando te esquecer
É mais um dia que tento não pensar em você
É mais um dia tentando superar
Superar a dor que é te amar

Me diz amor
Como vou fazer pra esquecer o teu sabor,
O calor dos teus abraços, o teu amor?
E agora o que é que eu faço?
Sem você sou só pedaços.
Me diz amor 
Como aceitar que você agora é dele?
Que o teu sorriso só sorri pra ele.
Como é que eu vou fazer?
Como que vou te esquecer?

É mais um dia que tento fugir
Mas pra onde quer que eu vá você está em mim
E em tudo a minha volta, sempre está aqui.
Como vou seguir?
Como conseguir?

Me diz amor
Como vou fazer pra esquecer o teu sabor,
O calor dos teus abraços, o teu amor?
E agora o que é que eu faço?
Sem você sou só pedaços.
Me diz amor 
Como aceitar que você agora é dele?
Que o teu sorriso só sorri pra ele.
Como é que eu vou fazer?
Como te esquecer?

Me diz amor
Como é que vou fazer ao ver você?
Que o teu sorriso só sorri pra ele.
E agora o que é que eu faço?
Sem você sou só pedaços.
Me diz amor...
É mais um dia tentando te esquecer.

Joanna Bravim

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Iguaria de Recado




Desregrado querer  que disseca o dissabor
Descabido ceder que esquece o que passou
O tempo passa dissipando a dor

Aturei a tormenta
Saturei o temor
Insurreci o torpor

Renasceu a esperança
Fez da fé aliança
A vida urge no horizonte
Percebe-se a vasta harmonia mesmo que distante

Surge teu sorriso de convite. Iguaria de recado
Tua presença me traz paz e um lindo sonho alado.

Joanna Bravim

Mais do Mesmo




A vida me serve mais do mesmo e isso não me serve.
Volto pro começo
Começo tudo outra vez
A dor se desfaz mais rápido
O tempo se refez

Sigo meu caminho
Chutando pedras, retirando espinhos.
Você surge em minha frente
Te improviso um sorriso
E a gente volta pro lugar.

Por um momento até parece que você quer recomeçar
E eu ao perceber isso até cogito me animar
Mas a dor aparece, se mostra.
Decido deixar tudo como está.

Joanna Bravim

Demônios de Uma Vida




Tem dias que me sinto tão em carne viva que até o vento que bate em mim dói.
Minha alma está ferida.
Eu, parada diante das minhas chagas, traumas, demônios de uma vida.
Diante de tudo o que fugi, tentei mascarar e esconder por anos a fio.
Catarse.
Não sei o que dói mais:
_ Encarar tudo o que sempre evitei ou visualizar o meu reflexo diante de tudo isso.
E não há nada e nem ninguém que possa me proteger ou ajudar.
É uma batalha muito árdua e solitária.

Joanna Bravim

Tão Igual




Por que pra mim tem que dar tudo errado?
Por que não pode dar certo?
Por que não pode ser?
Por que sou sempre eu que tenho que perder?
O fim de tudo é sempre tão igual...
Não sei como ainda me decepciono e entristeço.
Extraio todas as forças que tenho na ânsia de fazer dar certo.
E o resultado?
É sempre o mesmo. 
Mais uma dor dessas eu não mereço.
Sinto meu corpo calejado,
O que não quer dizer que não doa.
A experiência só comprova:
Mais uma expectativa à toa.
E as pessoas me perguntam:
- Por que você só escreve sobre dor?
Isso é fácil responder:
- Porque o fim é sempre esse. Nunca o amor.

Joanna Bravim