domingo, 29 de abril de 2012

Momentos pra Esquecer



Um cálice de vinho...
Era a única coisa que me restava;
Um cálice de vinho...
Era a única coisa que me acompanhava.

Mesmo sendo feita de titânio,
Sempre fui de alguma forma ferida, mas nunca me entregava, sempre me reerguia.
O coração sempre foi minha kriptonyta, meu calcanhar de Aquiles.

Mais uma vez a olhar o desabor dos meus sonhos e expectativas.
A cada gole amargo que a vida me servia
Fazia-me sentir descer queimando as lembranças de um futuro desfeito
E mais uma vez me questionar:
Deus, o que eu fiz para merecer isso?

E o flash das lembranças magoa a ferida que tenta sarar.
Enquanto um turbilhão de pensamentos é aquecido pelo vinho_ que tem amargura semelhante a minha existência _ ouço uma música da banda “Nenhum de nós” que me diz: “Quero um machado pra quebrar o gelo, quero acordar do sonho agora mesmo, quero uma chance de tentar viver sem dor...”

Não sei precisar onde estou nem pra onde vou;
Pouco importa a direção a seguir quando não se sabe o que quer ou o que se é.
Sinto-me em mar aberto, à deriva... Sendo levada por acontecimentos desencadeados pelo acaso cotidiano
Sem saber ao certo no que vai dar, ou o que esses eventos vão exigir de mim...

Vou empurrando a existência, tentando evitar ver o que não tenho para notar...
Mais uma vez me encontro fora de órbita;
Mais uma vez, sem opção, tenho que partir em retirada. Para onde? Não sei.
Mais um amontoado de sorrisos, cheiros e momentos pra esquecer...
Deus... até quando?

Joana Bravim

domingo, 8 de abril de 2012

Singularidade



Tinha um modo muito peculiar de agir:
Não agir era sua principal característica.

Sentia-se desencaixada do mundo
Relacionar-se não era uma habilidade inerente ao seu modo de ser
Apesar de, às vezes, sentir necessidade de pertencer,
De fazer parte.

Sempre fora incompetente para se aproximar ou reaproximar das pessoas.
Sempre se isolava
Ou isolada era por si mesma.
As circunstâncias mostram que ausentar-se, mesmo estando presente, era o que fazia de melhor.

Na maior parte do tempo, não se sentia mal por ser assim.
Tinha amigos, momentos de proximidade,
Mas ainda assim sempre sentia o vazio.
Não conseguia chegar à profundidade alcançada consigo mesma.
Quase nunca conseguia satisfazer, nem ao menos a superfície, quando estava na companhia de outras pessoas.

O incômodo vinha quando se encontrava em meio à multidões,
Seus olhares sempre inquisitoriais fazia com que ela ficasse sem jeito
Mesmo que mantivesse um ar de superioridade e de desdém.
Não era fácil_ absorver disfarçadamente_ as energias de incompreensão que lhe eram lançadas quando percebiam que ela sentia-se "normal" mesmo estando, na maior parte do tempo, sozinha.

Sempre fora muito solitária mesmo que nem sempre sofresse de solidão.
Já tinha se habituado a conviver sob essa ótica ao ponto de sentir-se bem na maior parte do tempo.
Conversar consigo mesma era um hábito que com a prática cotidiana tornou-se prazeroso, de início ocorreu por necessidade, com o passar do tempo, por opção.

Mas nesses dias, em que tinha que sair de seu casulo, era sempre doloroso ao ponto de querer ser como os outros,
Mesmo sabendo que singularidade nem sempre é sinônimo de anomalia.

Joana Bravim