quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ossos do Ofício




Amanheceu.
O sol teima em raiar afrontando a escuridão que permanece no mais profundo dos meus olhos.
Eu te quis e quis acreditar.
Mas agora é tudo tão vago... Impreciso... Disperso...

O reflexo do espelho comprova a apatia do meu semblante
De ombros curvados tenho que seguir rumo ao trabalho
A sobrecarga de dor torna o ofício mais pesado que costumeiramente é.
Mesmo assim, ainda tento fazer dele um refúgio, um alento.

Minhas tentativas de disfarce fracassam no meu sorriso amarelo tão perceptível.
Sou todo fracasso.
E isso me envergonha. Faz-me querer me isolar em casa.

Mas tudo em volta é lembrança.
Nem o café aquece minh’alma.
E a cafeína torna-se desnecessária diante da insônia que já me acompanha dias a fio.

Joanna Bravim

Labirintos Internos



Deixaste meu coração ao relento

E ao meu lado só restou a companhia do silêncio
Tento suportar o mundo com serenidade
Dias ruins se sucedem

O sereno da madrugada dói no âmago do meu ser
Caminho pelos becos escuros da minha mente
Tentando entender o que é perder

No decorrer da caminhada começo um árduo trabalho de depuração das lembranças
Perco-me em labirintos internos, são tantas andanças...
Ah luz dos meus olhos, esse amor é tão lindo e tão doído que me impede de viver.

Com o passar do tempo meus dias vão escurecendo
Faltam-me forças pra fazer amanhecer.
Mas como poderia eu culpaste doce flor do meu querer?

Se embebido das sensações que o teu ser me provocou
Tudo em mim resultou na mais pura e inocente insensatez dos meus atos.
Seria o amor insensato?

Mas também seria injusto punir-me. Tornei-me refém desse querer.
E desses dias inglórios que atravesso,
Só me resta tentar me reerguer
Refazer-me da dor que é seguir sem acompanhar você.

Joanna Bravim

sábado, 25 de agosto de 2012

Palavras Perdidas



Amanheci
Puro torpor
Submergi no mar bravio e profundo de ser
Resisti à veracidade de tudo o que ficou dito cá por dentro
Sem exaspero, constato nos confins longínquos do limiar do pensamento,
Palavras perdidas nos meandros de mim.
Perdi-me no subterfúgio do silêncio.

O ciclo foi interrompido.
Não há direito à queixas...
Passo dado propositadamente em falso.
Sem desvanecer, constato a fuga desenfreada do que não queria ser.
Das sombras do que outrora fui
Só restam pedaços de mim, transfigurado em um semblante disperso.

 Joanna Bravim

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um Amor de Tantos Versos




Te amei sob rimas e palavras
Te senti em concreto, em abstrato
E agora no meu quarto
Só o teu retrato
Que no espelho fixou
O que fazer com o que ficou?

Nossas prosas, nossos versos...
O soneto despedaçou

Gira sol
Move alguma coisa ao meu redor
Girassol
Busca a luz, te aquece e só.

Um amor de tantos versos
É de ler e se encantar
Tantas rimas, muitas falas...
Mas nem tudo se consegue expressar

Nosso amor foi poesia
E como tal, ironicamente, um dia,
Ao ponto final teria que chegar. 

Joanna Bravim

O Gosto do Sal




A miragem do que almejei
Vai se afastando conforme as ondas retornam ao mar após terem mordido a costa da praia
Envolto meus braços ao meu redor na tentativa de não me deixar partir com a maré
E a brisa que vem do mar
Faz-me sentir como se estivesse fincada na areia
O vento não me deixa leve, não me embala.
Só assanha o meu cabelo, parecendo este, menos emaranhado que os meus pensamentos.

Sinto o gosto do sal, não das águas do mar, mas a salubridade das minhas lágrimas,
Que insistem em escorrer caindo onde meu coração se encontra_ no chão.
Com o olhar fixo no horizonte, estática constato:
Até o sol, por hora, se rebaixa para a noite surgir juntamente com um tipo bem específico de solidão, sendo esta, conhecida apenas por quem já olhou a lua sozinha.

Joanna Bravim



domingo, 19 de agosto de 2012

Qual o Sabor do Agora?





Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.

Tudo tão caprichosamente talhado,
Encadeamento de acasos encaixados de forma tão sutil...

Precisamente imperceptível.

A não ser quando se olha pra trás.
Difícil explicar a lógica da vida.
Como aproveitar melhor o agora se só o entendemos no futuro?

Cada minuto experimentado se digere com a expectativa de estar fazendo o certo,

Ou a preciosidade de conhecer o sabor do agora;
Seguido da tensão de uma possível indigestão ou não.
Uma única certeza insiste em tentar permanecer:
A esperança da possibilidade.

Joanna Bravim


Caçando Rastros




Sinto falta da gente
Sinto falta de quem eu sou quando estou com você
Sinto falta da nossa troca de energia
Da tua presença que me irradia
Nada consegue preencher

Sinto falta de sentir                                            
Tudo me lembra você
É difícil existir

A vida resume-se ao vazio
Dos planos que ficaram pelo caminho
Estou abandonada às margens de mim
A estrada acaba aqui

Não há nada e nem ninguém em lugar nenhum
Estou cega e sem os outros sentidos aflorados
Difícil sobreviver
Fico de joelhos caçando rastros
Que me levem à voltar a ser.

Joanna Bravim

Dependente






Não consigo suportar essa abstinência de ter que ficar longe
Sempre fracasso e procuro pretextos pra me fazer presente
Essa anestesia momentânea que o teu sorriso me causa torna-me dependente, viciada na tua companhia.

Não tenho mais consciência
Não consigo dosar o quanto preciso de você
Tenho medo de não me desintoxicar dessa overdose há tempo e me perder pra sempre.
Dependente. Hoje reconheço que sou totalmente dependente de você.

Não sei se internação resolveria
Você corre em minhas veias
Foi injetado em mim e rapidamente se distribuiu dominando os meus sentidos, meus órgãos...

Impressionante como uma simples lembrança tua desencadeia uma interna revolução molecular
Ao ponto da mesma tornar-se visível a olho nu.
A taquicardia me faz suar frio, o tremor das pernas me impede de fugir.
E eu pateticamente ainda tentei.

Só me resta desviar o olhar, ficar cabisbaixa.
Já existem sinais demais à mostra
Tento omitir ao menos o reflexo.

Joanna Bravim

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Deusa do Olimpo




Eu que por tantas vezes me machuquei me contradizendo:
Diminuindo-me, sem pesar meu devido valor;
E achando pouco, me culpava e era nisso que encontrava respostas.
Engrandecendo-me, eu Deusa do Olimpo, responsável por tudo o que findou.

E no momento que se encerrava a graça que me fazia sorrir
Tudo que me sustentava desabava.
A vida incansável me causando mais dor.

O preço de me fazer acreditar?
O silêncio causando vácuo em todo lugar,
Em tudo o que sobrou.

Preciso de tanto que não sei precisar o quanto
Sigo herdando tudo o que construí quando o fiz sem saber o que fazia de mim
Preenchendo a vida do que não entendia
E sem perceber gerava o que não imaginava que viria_ Um início sem fim.

Joana Bravim

Andando em Círculos




Por trás do pensamento o que sou tão pouco é
A fé se dissipa na certeza de nunca ter sido alguém pra ninguém
Onde estou nunca é onde tenho que ficar
Tenho que partir sem saber pra onde seguir
Tentativas vãs de traçar uma rota
Tudo o que se desfaz por fora se refaz dentro de mim
Em forma de nó que obstrui meu íntimo
O silêncio sufocado sobrevindo
Existindo impune por dentro

Sigo obtuso na tentativa de proteger minha sensibilidade
Na ideia desconexa de não mais permitir que abusem de mim. Mentecapto.
A razão me desgarra
Sinto-me um pintor tentando criar sua existência
A tela é a mesma e sobre ela a mistura de cores forma a quimera de uma vida
A cada quadro a esperança de fugir a regra
Agarro-me a possibilidade de ser a exceção
Por trás desse devaneio o resultado é sempre o mesmo
Só encontrei o revés do que almejo
Acreditando que tinha encontrado a saída
Quando na verdade era a porta de entrada
Andando em círculos.

Sinto-me descalço caminhando sobre pedras pontiagudas
E a dor que isso causa me parece familiar
O meu máximo não foi suficiente pra manter amor aqui
Sustentei muito por você
E agora não consigo suportar o peso de ser eu

Joana Bravim

sábado, 4 de agosto de 2012

Um Sentir Que Não Se Quer



Querer - te perto é maldição que me salva
É amor em teia e o que a tece.
É me fazer de presa, vilã e prece.

É apego que me prende feito teia
Espiral que me norteia
Nada de infinito enquanto dure
Que seja um infinito que perdure

Meu amor por ti é o que me faz sorrir
É o que me seca e impede de florir
É um não entender a insistir

É desistir insistindo
É fugir sem partir
É chorar sorrindo
É meu silêncio me abrir

É paz inquietante
De um sentir que não se quer
Flores, farpas de ser quem se é.

Ter-te longe é liberdade que me prende
É ausência sempre presente
É a ansiedade do reencontro
É alívio, amor e ponto.

Joana Bravim

O Peso De Sentir




Quero o desabafo de um silêncio.
Só o silêncio tem espaço suficiente para guardar esse acúmulo de sentimento:
A quietude externa da alma;
O turbilhão interno de ser.
Seria bom se a união de duas dores fosse o antídoto para o sofrimento de ambas.
Mas o livre arbítrio sentenciou o resultado e nada mais pode ser feito.
Existe uma linha muito tênue entre o infinito e a impossibilidade.
É preciso seguir. Pra onde? Não sei, a vida é de viés.
É árduo o meu prosseguir carregando o peso de sentir empreguinado nas paredes do meu ser.
Arrasto correntes, realidade deposita em minh’alma todo o peso da falta.
Sinto-me pesada demais para voar.

Joana Bravim

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Borboletas no Estômago




Tento disfarçar esse frio na barriga que me devora todas as vezes que vejo você
Teus olhos são pra mim uma prisão da qual meus sentidos não conseguem fugir
Em pensar que eu pressenti...

Agora eu vivo com o estômago repleto de borboletas inquietas e famintas, 
Incitadas pela tua presença ou pela simples lembrança da tua existência.
O que os teus olhos fizeram comigo?
Se bem que seria injusto culpá-los apenas.

Não é possível inocentar todos os teus detalhes ou livrar-me da sentença de sentir-me assim.
E a punição?
Malditas borboletas!

Joana Bravim