sábado, 23 de junho de 2012

Uma Carta Para Ela


Sou leal a você minha algoz que arremata de modo tão abrupto os meus sentidos ao sorrir.
Ó minha doce amada, meus lábios estão selados por tua proximidade que causa em mim ebulições moleculares.
A torrente desse amor silencia minha voz diante de mais esplendorosa imagem;
Teu cheiro inebria e adormece meus sentidos;

Assumir que é amor o que sinto por ti é meu suicídio, embora nunca me tivesse ocorrido matar-me.
Eu, que simbolicamente morro várias vezes o martírio que é não tê-la em meus braços, experimento a ressurreição que é olhar você.
Já peguei uma vez de relance teu olhar, e esse instante te deu meu ser por inteiro, e este é meu segredo.

Força extrema que aprisiona meus sentidos a tua lembrança.
E tudo parecia ter nascido, a princípio, de uma vaga ideia de felicidade.
Será que o meu ofício doloroso é o de adivinhar na carne a verdade que não quero enxergar?
Cogitar a possibilidade de seguir a existência, sem nem ao menos por um momento ter a você, é me banir para um mundo enrijecido e congelado pela tua ausência.
Por isso, agarro-me a esperança de uma virgem possibilidade e sigo acompanhada pela gélida solidão dos dias que meus olhos não te veem.

Tenho um coração inundado de sentimentos, por conta disso, meus dias sem você me causam asfixia.
O tempo é meu carrasco, nada preenche as horas.
Tento aquecer-me relembrando as dádivas dos raros momentos nos quais fui agraciada pela tua presença.
Só assim, trago cores a minha vida. É em você que habita a aquarela da minha existência.
És ausente agora, porém, permanece em mim. Guardada em meu peito no mais ardente amor.

Joana Bravim

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Dia Seguinte Do Fim




Já morri demais nessa vida.
Estou cansada de viver o luto, enterrando amores...
Tendo que esquecer sorrisos, momentos...
Acostumar – me com a ausência das alegrias que criei.
Sobreviver ao vazio de possibilidades, agora inúteis.

É sempre avassalador o dia do fim, e o dia seguinte a este, não conheço palavra para expressá-lo:
Um buraco, vazio, oco, um nada interior que resta e dói absurdamente.
Tudo em volta segue, flui... Menos eu.
Agora existe outra pessoa que habita o meu interior e tenta dar continuidade aos afazeres diários.
Eu não. Eu vivo o luto.

Invento motivos que justifiquem a morte desse amor;
Lamento o que fiz e não fiz;
O que disse e o que deixei de dizer;
Eu vivo o luto dos planos que tinha feito;
Dos sonhos que foram ceifados de modo tão abrupto.

E só o tempo para me ajudar a acostumar com o vazio,
Ou quem sabe, o escorrer das horas ajude-me a desaguar de volta para mim,
E na construção diária desse cais, eu consiga fazer do meu interior um porto seguro para ancorar.

Joana Bravim