domingo, 8 de abril de 2012

Singularidade



Tinha um modo muito peculiar de agir:
Não agir era sua principal característica.

Sentia-se desencaixada do mundo
Relacionar-se não era uma habilidade inerente ao seu modo de ser
Apesar de, às vezes, sentir necessidade de pertencer,
De fazer parte.

Sempre fora incompetente para se aproximar ou reaproximar das pessoas.
Sempre se isolava
Ou isolada era por si mesma.
As circunstâncias mostram que ausentar-se, mesmo estando presente, era o que fazia de melhor.

Na maior parte do tempo, não se sentia mal por ser assim.
Tinha amigos, momentos de proximidade,
Mas ainda assim sempre sentia o vazio.
Não conseguia chegar à profundidade alcançada consigo mesma.
Quase nunca conseguia satisfazer, nem ao menos a superfície, quando estava na companhia de outras pessoas.

O incômodo vinha quando se encontrava em meio à multidões,
Seus olhares sempre inquisitoriais fazia com que ela ficasse sem jeito
Mesmo que mantivesse um ar de superioridade e de desdém.
Não era fácil_ absorver disfarçadamente_ as energias de incompreensão que lhe eram lançadas quando percebiam que ela sentia-se "normal" mesmo estando, na maior parte do tempo, sozinha.

Sempre fora muito solitária mesmo que nem sempre sofresse de solidão.
Já tinha se habituado a conviver sob essa ótica ao ponto de sentir-se bem na maior parte do tempo.
Conversar consigo mesma era um hábito que com a prática cotidiana tornou-se prazeroso, de início ocorreu por necessidade, com o passar do tempo, por opção.

Mas nesses dias, em que tinha que sair de seu casulo, era sempre doloroso ao ponto de querer ser como os outros,
Mesmo sabendo que singularidade nem sempre é sinônimo de anomalia.

Joana Bravim


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